Desembargador Antônio Izaías da Costa Abreu lança livro de crônicas com memórias do Judiciário
O juiz Antônio Neder, que foi presidente do STF, mandou o oficial de justiça citar um cidadão em São José do Rio Preto e o servidor foi enxotado aos impropérios. Pouco hábil, o funcionário botou processo das ofensas ao juiz e ainda assinou: “Certifico e dou fé”; outro magistrado tinha um Landau amarelo, sempre brilhando, que foi abalroado por um verdureiro, que fugiu assustado. Localizado, o homem explicou: “Quando tirei a carteira aprendi que carro branco era ambulância, preto da polícia, verde do Exército e vermelho dos bombeiros; juro que não sabia que amarelo era de juiz”.
Esses são alguns relatos contados com bom humor no livro “O que vi e ouvi”, que será lançado pelo desembargador aposentado Antonio Izaías da Costa Abreu no próximo dia 5 de dezembro, às 17h, na Biblioteca do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ), na rua Dom Manuel 37, térreo, Centro do Rio.
Reunindo 47 crônicas, “O que vi e ouvi” é o 15º livro do desembargador aposentado, que selecionou casos colhidos durante sua trajetória de mais de 40 anos como magistrado, enfatizando o lado positivo e alegre da vida. Memorialista do Judiciário fluminense, Izaías descobriu como ocorreu a morte do major Frederico Koeler (1804-1847), autor do planejamento da cidade de Petrópolis, e que foi assassinado por um amigo com um tiro acidental. A investigação resultou no livro “A morte de Koeler: a tragédia que abalou Petrópolis”, de 1996.
“O comportamento humano, independente de grupo social, sempre guarda aspectos comuns. Há sentimentos que todos compartilhamos, pois, ao final, somos atingidos de forma semelhante quando submetidos às mesmas situações. Entretanto, há pessoas que mantêm um olhar mais otimista diante dos fatos, que valorizam o riso, não como forma de deboche, mas como a reação de quem enxerga um lado bom em tudo que acontece”, destaca o autor no livro.
O desembargador Antonio Izaías também ressalta as histórias que viveu na magistratura, justificando o novo livro como a forma que considerou importante para eternizar alguns registros mais marcantes.
“Quando penso em tudo que vi e ouvi em décadas dedicadas à magistratura, é sempre como muita alegria. Certamente passei momentos difíceis, mas mal me lembro deles. O que ocupa as minhas recordações são as histórias que me provocaram o riso e, ao decidir registrar passagens marcantes, optei por eternizar, em livro, aquelas que mais me causaram aprazimento”, disse o magistrado, lembrando de mais uma crônica que considerou engraçada, que também faz parte da publicação.
“Uma vez estávamos em Diamantina, em Minas Gerais, e fomos jantar em um restaurante com um grupo de amigos. Éramos vários casais. Alguns pediram massa e outros bacalhau. Ao chegar a conta, um dos integrantes do grupo observou que estavam sendo cobradas nove porções de bacalhau, quando, na sua conta, só haviam sido consumidas sete porções. O garçom não deu o braço a torcer, afirmando que controlava o número de porções separando dentes de alho. E que havia nove dentes separados. Sem argumento, o reclamante perguntou: ‘E como o senhor controla o número de massas pedido?’ O garçom então respondeu. Não controlo, porque ninguém nunca reclamou que a contagem estava errada”, encerrando a conversa.
Após anos dedicados à Justiça e às letras, Antônio Izaías da Costa Abreu convida todos os apreciadores de crônicas para o lançamento do livro, que propicia, ao leitor, passear pelo cotidiano do magistrado em seus momentos de convívio com os colegas, quando as histórias de humor eram contadas para descontrair e provocar risadas. O autor afirma espera que, com a leitura de sua mais nova obra, quem se aventurar a explorar suas páginas possa usufruir de momentos agradáveis e prazerosos.
Sobre o autor
Nascido em março de 1932, no município de Bom Jesus do Itabapoana, região Norte do estado, o desembargador Antonio Izaías da Costa Abreu começou sua carreira na magistratura como juiz em Itaperuna, em 1972. Passou por várias comarcas como Santo Antonio de Pádua, Campos dos Goytacazes, Niterói e Petrópolis, até chegar ao Fórum da capital, em 1981. Em 1985, foi convocado para o extinto Tribunal de Alçada Criminal. Em 1997 foi promovido a desembargador e, no ano seguinte, passou a presidir a 8ª Câmara Criminal. Aposentou-se , a pedido, em 2002.
Magistrado, historiador e escritor, é membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), vice-presidente da Fundação Miguel de Cervantes, vinculada à Biblioteca Nacional e membro da Comissão de Preservação da Memória Judiciária (Comemo), do Museu da Justiça - Centro Cultural do Poder Judiciário.
JM/JAB
Foto: Brunno Dantas/TJRJ